Olhamos para trás na história e observamos a ascensão do fascismo entre 1920 e 1930, e freqüentemente nos perguntamos como foi possível que todas pessoas não reconhecessem o perigo e resistissem a isto com todos os meios necessários. Do ponto de vista do presente, não é difícil salientar os momentos nos quais o fascismo poderia ainda ter sido cessado antes que se tornasse muito tarde. Ainda, a difícil tarefa parece ser o reconhecimento das formas de fascismo no presente. Ele vem disfarçado de um discurso moralista que costuma legitimar posturas opressoras de uma falsa democracia; postura essa que criminaliza movimentos sociais, oprime levantes de massas por seus direitos, e tortura mulheres, homens e animais afim de sobrepor sua ideologia de ódio e segregação irracional. Historicamente, o fascismo encontrou um rico chão reprodutivo, não somente porque o capitalismo entrou em uma outra de suas crises inerentes – uma crise similar a que estamos testemunhando nos dias de hoje – mas também porque o fascismo, como uma ideologia totalitária, vislumbrou a possibilidade de ações concretas, como a tomada do poder a partir de propostas de limpeza social para um “melhor futuro. Abordando questões complexas com respostas simples, soluções rápidas e bodes expiatórios. Milhões, cegamente, seguiram líderes autoritários, não somente por causa da estupidez e cegueira das massas, mas também porque eles pensavam que o fascismo era uma visão válida de mudança social, uma mudança social que é condicionada pela exclusão, exploração, dominação e matança de “outros”.
Exemplo disso são os cadáveres deixados por esta onda de intolerância. Como na Curitiba de Carlos Adilson Siqueira, assassinado em 10/03/1996 por grupos skinheads. Motivo? Era negro. Quantos mais Adilsons serão necessários para quebrarmos o silêncio cúmplice da sociedade?
Hoje, em circunstâncias que em alguns aspectos fortemente se assemelham à primeira metade do século 20, devemos entender o fascismo não somente como a ideologia que guia a juventude desorientada, mas, essencialmente, como o produto da violência estrutural do capital e do Estado. Na sociedade que está sendo rasgada pela exploração de classe, onde a minoria está roubando da maioria, é muito desejável à classe capitalista fomentar as novas formas de “xenofobias militantes”. A classe capitalista necessita dos fascistas para poder se manter em posições de poder e domínio. Assim, a massa pobre – os “outros” – injustamente levam a culpa pelas injustiças da classe capitalista, quando na verdade eles sim são os atuais inimigos das pessoas. A consciência das massas é mantida viva pela memória dos milhões que morreram por nada – que morreram por causa das políticas fascistas e nazistas. Portanto, as novas formas de ódio, por exemplo, as novas formas de fascismo, têm colocado um disfarce mais sofisticado, a partir de idéias ultraconservadoras que defendem a repressão cada vez maior em cima de classes mais baixas; a extrema-direita chora em favor da pena de morte, da reestruturação da maioridade penal, da criminalização do aborto e etc. Ainda assim, eles permanecem lobos em pele de cordeiro.
Realmente, os capitalistas e seus servos políticos não estão mais apenas saudando o Führer com sua mão direita. No entanto, continuam aceitando decisões políticas com e na qual eles exploram, dominam e condenam à morte milhões de mulheres, crianças, indígenas, aposentado/as, jovens, trabalhadore/as, estudantes, migrantes e aquele/as que pensam diferentemente, que não se encaixam no estereótipo do homem branco, adulto, heterossexual e rico. Em acordo com tais políticas, os militantes xenófobos nas ruas meramente movem as fronteiras da normalidade e da aceitabilidade de violência sistêmica na sociedade.
Este é o porquê de devermos entender a luta antifascista como uma luta contra fascistas extremos em trajes patrióticos e simultaneamente como a luta contra a violência sistêmica das forças do capital e do Estado. Em tempos de crises, quando os políticos manifestam suas únicas lealdades, a lealdade para o capital, o apela ao fascismo inevitavelmente alarga seu alcance. Algumas medidas reformistas são fumaça e espelhos para as massas e retém a exclusão contínua das pessoas invisíveis, os excluídos. A crise não é uma hora para refletir sobre esta ou aquela reforma trivial, é um momento para mudanças sociais radicais. Uma mudança que resultará numa sociedade em que a solidariedade, o respeito pela dignidade de cada um, a igualdade, a irmandade e o companheirismo reinarão. Uma sociedade que considera inaceitável a intolerância, a exclusão e o ódio.
Décadas atrás, nossos predecessores se levantaram e resistiram à ascensão do fascismo. Hoje, esta tarefa permanece inalterada para nós. Devemos construir a resistência novamente! Vamos dizer um firme NÃO ao capitalismo! NÃO ao fascismo e SIM à revolução social!
Antifascismo sem a revolta social não tem sentido algum. O preço da liberdade é a eterna vigilância!